U2 e o Cristianismo



Foi um show agitadíssimo. As milhares de pessoas presentes no estádio estavam esgotadas de tanto pular, dançar e cantar, ao som do mais badalado rock and roll e diante da pirotecnia produzida pelas mais modernas tecnologias em telões e iluminação. Mas a noite ainda não estava completa. No final, em peso a galera começou a pedir bis. Foi aí que veio a surpresa. Depois de agradecer diversas vezes ao “Todo-Poderoso”, o vocalista da banda começou a cantar a palavra “Aleluia”. E não parou mais. Logo, a melodia contagiante e a mensagem penetraram na alma dos presentes e a massa também começou a louvar ao Senhor. Foi com este som, que o grupo deixou o palco. Se essa cena fosse vista em qualquer apresentação de música gospel, não haveria nada a estranhar. Mas não. Foi o encerramento de mais um show da maior banda de rock do planeta, o U2.Também não foi uma exceção. Desde seus primeiro sucessos, como I will follow e Sunday Bloody Sunday, a religião e a política dão o tom das músicas da banda. Aliás, esse lado espiritual, fez com que a banda irlandesa fosse o único grupo da história a não sofrer com as acusações de trazer mensagens escondidas em seus álbuns, reveladas quando os antigos discos de vinil eram tocados ao contrário. Eles adoram pregar o Evangelho e batalhar por causas sociais e humanitárias com seu trabalho. Simplesmente, é impensável ver a banda flertando com o ocultismo ou qualquer coisa que destoe da mensagem cristã, como acontece com outros ícones do rock como Led Zeppellin ou Rolling Stones. Carolas? “Sei que Jesus levou todos os meus pecados na cruz. Por isso, muitas de minhas canções são como orações”, tem afirmado em diversas entrevistas Paul David Hewson, o Bono Vox, 45, líder da banda. Foi ele o responsável pelos “Aleluia”, cantados em encerramentos de shows da turnê mundial Elevation e por composições como 40, na verdade a leitura em ritmo de rock do Salmo da Bíblia.

O U2 – cujo nome em inglês lê-se “you too”, “você também” – já vendeu, em quase 30 anos de carreira, mais de 120 milhões de discos. Sua atual turnê, Vertigo, que atraiu no fim de fevereiro 150 mil pessoas para dois shows em São Paulo, já passou por 110 cidades da Europa e dos Estados Unidos e reuniu outros 5 milhões de espectadores. O sucesso é notório, tanto que a revista de economia Forbes a apontou como a segunda banda que mais ganha dinheiro no mundo, atrás apenas dos Rolling Stones.

Norteado por princípios cristãos, Bono não se contentou em ser um astro pop e decidiu aplicar sua vida na luta por causas sociais e humanitárias. Primeiro no cenário doméstico da Irlanda, dividida pelos confrontos entre católicos e protestantes que já duram mais de um século. Depois, mundo afora. Em 1984, homenageou o ativista e pastor negro Martin Luther King, assassinado em 1968 por causa de sua luta contra a discriminação racial, com a música Pride – In the name of love e começou a lotar estádios. Um ano depois, após participar do concerto Live Aid e ajudar na arrecadação de fundos para combater a fome na África, passou seis semanas em viagem missionária na Etiópia com a esposa, conhecendo in loco, as agruras do continente. Longe da futilidade de outros grupos e do tradicional lema “sexo, drogas e rock and roll”, Bono tem trânsito livre com importantes líderes mundiais, a ponto de ser figurinha carimbada nos encontros do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e de fazer coisas inusitadas no meio de suas apresentações, como ligar para autoridades da ONU ou pedir que o público envie por celular mensagens para o presidente dos Estados Unidos. Mas suas ações não ficam apenas no discurso. Recentemente, ele foi o porta-voz da campanha Drop the Debt (Derrube a Dívida), que conseguiu perdão da dívida de 14 países e revisão da de outros quatro junto às nações mais ricas, o G8. Também garantiu uma ajuda de US$ 50 bilhões para os países mais pobres e remédios contra a Aids para 10 milhões de africanos.

Religião prática – Essa agenda movimentada faz com que Bono perca a paciência ao ficar horas em estúdio para novas gravações. “Falamos para ele ir para ‘aquele lugar’ e depois procurar o George Bush. E o pior é que ele vai”, brinca David Howell Evans, o The Edge, guitarrista do U2. O presidente dos EUA é um dos maiores aliados de Bono em algumas de suas campanhas. Apesar de ter conquistado os norte-americanos com a renovação de seu estilo musical a cada disco e transformar a canção Walk on em um hino para os americanos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a aproximação se deveu mesmo à religião, já que Bush se declara um metodista fervoroso. Filho de mãe protestante e pai católico, Bono prega uma mensagem ecumênica e de paz. Não à toa, foi a pessoa do ano da revista Time, ao lado de Bill e Melina Gates e, agora, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Ele diz que os dois momentos mais importantes de sua vida foram os encontros com o evangelista batista Billy Graham e com o papa João Paulo II.

Nos shows realizados na capital paulista, um dos momentos mais marcantes foi a exibição no telão descomunal formado por 12 mil pequenas lâmpadas da palavra “coexista”, com as letras C, X e T formando os símbolos do Islamismo, do Judaísmo e do Cristianismo. “Os rapazes do U2 realmente são cristãos convertidos”, diz o presbiteriano Steve Stockman em seu livro Walk on – a jornada espiritual do U2, recém-lançado no Brasil pela editora W4 Endonet. Stockman, que não esconde sua admiração pela banda, explica que no começo dos anos 80, três dos quatro integrantes do U2 freqüentavam um grupo de oração e estudos bíblicos carismático em Dublin, na Irlanda, chamado Shalom. Além de Bono, The Edge e Lauren Joseph Mullen Jr, o Larry, professam a fé cristã desde aqueles tempos. Essa influência fica muito clara nos álbuns October e Joshua Tree. O primeiro, inclusive, chegou a ser classificado por alguns críticos como um disco gospel. “Realmente, naquela época, ouvimos muita música gospel. Precisávamos de uma mensagem. Algo que vivêssemos. Acho que isso acaba aparecendo em nosso trabalho”, confirma The Edge. Como não professa a mesma fé dos amigos, o baixista Adam Clayton quase deixou a banda. “O grupo só não acabou porque ele conseguiu se adaptar à crença dos demais no decorrer dos anos. A amizade e a união também foram fundamentais, já que a crença que os músicos têm é de uma espiritualidade mais prática e menos presa a conceitos tradicionais”, diz o jornalista brasileiro Claudio Dirani, autor do livro U2: história e canções comentadas, publicado pela Editora Lira. Segundo Dirani, não é possível entender a religiosidade da banda sem compreender também o contexto irlandês. “Lá não é como aqui no Brasil, onde o evangélico é uma pessoa com religião apenas nominal, em geral católica, que se converte. A Irlanda é muito religiosa e politizada e a comunidade Shalom não era tradicional como os católicos e protestantes do país”, explica. Vindo desse contexto e de uma família mista, até hoje Bono professa uma religião independente, nem católica nem evangélica, mas com diálogo com as duas correntes. Talvez, por isso, muitos duvidem que seja mesmo uma pessoa que entregou a vida a Cristo, a ponto de ser chamado de anticristo por vários pregadores. E, de fato, ainda que fale muito da fé e o documentário sobre sua vida se chame O filho favorito de Deus, ele não é um cristão típico. Apesar de preservar muito sua vida pessoal, quase nunca aparecendo em revistas de celebridades e não gerando notícias de casos extraconjugais – é casado há mais de 20 anos com Alison Stewart, namorada dos tempos de escola, e tem com ela seus quatro filhos: Jordan, Eve, Elijah e John.

Fonte: Revista Eclésia

2 comentários:

Hermes C. Fernandes disse...

Confira o conteudo deste link:

http://blogu2.wordpress.com/

Demonstra a conexao clara entre algumas letras do U2 e a mensagem do Evangelho de Cristo.

David disse...

ótimo post cara.
Bem completo.